Cameron Crowe é um homem que ama música. Ela está em suas veias, em seu coração, na sua respiração. Mas se faltou talento para ser músico, sobrou para escrever sobre música, falar sobre o assunto com paixão. Primeiro, como jornalista. Depois, como roteirista e cineasta. O que era ensaiado em seus primeiros filmes, toma conta de toda a extensão da tela em Quase Famosos.
Este é indiscutivelmente um filme sobre amor, disfarçado de filme sobre música. Sobre a coisa mais importante na vida de alguém. Aquilo que motiva, que move, que serve de estopim. O amor de uma mãe por seus filhos. O amor de uma mulher por um homem. O amor entre um grupo de amigos. O amor de um menino pela música. Todas as pequenas demonstrações de amor. Quando a irmã de William Miller diz no seu ouvido, ao som de America, de Simon & Garfunkel, pra olhar embaixo da sua cama, que “aquilo vai te libertar”, não dá pra imaginar a cena mágica que está por vir: a apresentação de um menino aos deuses.
Magia é o que liga cada cena deste filme. Magia de pessoas que, mesmo disfarçadas de personagens, são pessoas e fazem o que as pessoas fazem. E amam uma música boba com toda a força e amam uma banda como se não existisse mais nada. E amam um ao outro tanto e tão fortemente que o amor não deixa palavras virem à tona. Tanto que não conseguem falar porque a voz da gente embarga quando o amor é muito.
Cameron Crowe ama tanto a música que não cria personagens neste filme. Escreve pessoas. Pessoas que amam a música tanto quanto ele. Que se dedicam a isso. Seja fazendo música, seja falando sobre ela, seja estando perto das pessoas que fazem música ou que falam sobre ela. A cena completa de Tiny Dancer no ônibus, que aparece na versão do diretor, explica como alguns versos e uma melodia podem unir qualquer coisa, podem curar qualquer dor.
Quase Famosos
[Almost Famous, Cameron Crowe, 2000]